quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sobre a necessidade de tachar as coisas

"- Você é biista ou bonifacista?
- Fascista nunca fui, não sou e jamais serei - respondeu Viramundo, melindrado. - Sou liberal-democrata, monarquista e parlamentarista.
- Você não me entendeu - tornou o outro, impaciente. - Quem é que falou em fascista? Eu falei em bonifascista.
- Que vem a ser isso?
- É quem apoia os bonifácios.
- Sei lá quem são os bonifácios! - respondeu o mentecapto, já por contao do Bonifácio.
- São os inimigos dos bias. - informou Brbeca.
- Quem são os bias?
-São os inimigos dos bonifácios!
E ficaram nisso, se Barbeca não insistisse:
- Aqui em Barbacena a gente tem de ser biista ou bonifacista. Você o que é?
Viramundo, aborrecido, lembrou-se do Dr. Pantaleão: Todo mundo naquela cidade tinha era mania de perguntar o que os outros eram.
- Não sei - respondeu, evasivo. - Ainda não li as plataformas. Você o que é?
- Eu nasci biista, porque meu nascimento foi na maternidade dos bias. Mas logo virei bonifacista porque fui batizado na igreja dos bonifácios. E assim foi indo minha vida inteira. Na cidade tudo é duplo: armazé, escola, cinema, clube, salão de barbeiro, até puteiro, tem de um e tem de outro.
- E hoje, o que você é?
- Bem, hoje de manhã eu acordei bonifacista porque a primeira coisa que eu fiz foi tomar uma cachacinha no botequim dos bonifácios. Depois fui levar uns sacos de esterco na fazenda dos bias e voltei de lá biista. 
- Eu quero saber aqui e agora - insistiu Viramundo.
- Ainda agorinha nós estávamos ali na Rua Bias Fontes, de modos que eu era biista. Agora estamos indo pela Rua José Bonifácio, de modos que eu sou bonifacista.
De fato, os dois amigos iam seguindo rua afora, distraídos com a sua peripatética conversação, como dois filósofos gregos. Detiveram-se em frente a um café, na praça principal da cidade, cujo nome no momento não me ocorre se era Prala Bias Fortes ou Praça José Bonifácio."

Trecho de "O Grande Mentecapto" de Fernando Sabino.


Postado por: Nathalie Palomares

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Drummond

Não costumo gostar de poesia, mas as vezes tenho que reconhecer que algumas delas falam coisas bonitas demais...

"Por muito tempo achei que a ausência é falta.

E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,

que rio e danço e invento exclamações alegres,

porque a ausência, essa ausência assimilada,

ninguém a rouba mais de mim."

Carlos Drummond de Andrade
 
Postado por: Nathalie

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Manual para evitar problemas

     Houve um tempo que escrever e falar sobre assuntos que me incomodavam era simples e fácil. Eu acreditava em meus “assombros” e tinha a certeza da necessidade de falar sobre eles. Hoje isto se tornou mais complicado...não por ter mais dificuldade lingüística, mas simplesmente porque o assombro ficou rotineiro demais e tenho agora o temor de parecer “terrorista”, exagerada ou pior, ser vítima da pergunta:” O que isso tem a ver comigo? Por que você está preocupada com isto? “.
     Sinceramente, não há nada pior do que perceber que o “incômodo” é só meu, e ao falar sobre ele, “ouvir como resposta o silêncio”, ou no máximo ver estampado no rosto do meu “suposto” interlocutor um sorriso amarelo!! Eu indignada com algum fato e “ele” indignado com minha indignação!
     Reconheço que todos têm muita pressa. Não é possível viver tudo ao mesmo tempo, muito menos ficar “perdendo tempo” pensando. Por vezes, acredito que realmente deve ser muito ruim receber informações sobre coisas que não dizem respeito a interesses pessoais imediatos. É realmente muito melhor e mais fácil ir vivendo, trabalhar, dormir, se alimentar, e de vez em quando uma diversão, uma conversa fiada no bar, com amigos que principalmente não tenham nenhuma pergunta difícil a fazer, afinal o tempo passa, a vida é curta e pra que ficar preocupado com um monte de “bobagens” que não podem ser resolvidas?
     E também de vez em quando é só falar mal de algum político, dar um palpite sobre a “crise mundial”, resolver (já completamente bêbado!!) o problema do desmatamento e pronto!! Cumpre-se assim o papel social.



Iracema Vasconcellos

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Pensamentos : John Lennon


" Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada. Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável. Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada "dois em um": duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável. Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto. Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas. Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente. Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém."

John Lennon.


Postado por: Vinicius Fontoura.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A escola e as novas tecnologias


Precisa ser assim?

"Ao colocar como ponto de partida as mudanças que são necessárias à escola para que ela possa interagir com o país e não simplesmente para a utilização dos meios de comunicação, estou enfrentando um mal-entendido que o sistema escolar não parece interessado em desfazer: a obstinada crença de que os problemas da escola podem ser solucionados sem que se transforme o seu modelo comunicativo-pedagógico, isto é, com uma simples ajuda de tipo tecnológico. E isso é um auto engano. Enquanto permanecer a verticalidade da relação docente e a sequencialidade no modelo pedagógico, não haverá tecnologia capaz de tirar a escola do autismo em que vive."

"Desafios culturais da comunicação à educação" - Jesús Martín-Barbero


Postado por: Nathalie

De "O Encontro Marcado", Fernando Sabino




"De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.”

Postado por:  Nathalie